segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Oração especial

A revista Lola deste mês de dezembro traz um artigo de Hilda Lucas sobre a coragem de se apaixonar, principalmente pela própria vida. O mais interessante é quando ela enfatiza que o perigo está quando nos acomodamos ao próprio cotidiano engessado. Durante o texto, ela cria duas formas de oração para os "corajosos e lúcidos", como ela mesma diz e que eu transcrevi abaixo:

Senhor, protege-me das prisões do comodismo, da platitude e da estagnação. Dá-me coragem, loucura e tesão para viver sem medo de mim e dos meus sonhos. Dá-me asas e ventos, insônias e angústias, inquietações e algum sofrimento, para que eu possa dizer sim à Vida.

Assombra-me, Senhor! Não permita que eu me afaste do que me identifica, que eu esqueça o que me alegra ou cale o que me traduz. Insufla-me, instiga-me, exige-me ser. Livra-me dos boicotes e adiamentos que eu mesma me imponho. Dá-me paz e paixão, alternadamente, como a chuva e a estiagem - já que uma só existe quando a outra desiste. Faz-me entender que há mais dano no medo de viver que no medo de morrer.

Precisa dizer mais alguma coisa? Desejemos o desafio da vida, porque aí está a graça da existência!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mar e terra - Uma lembrança

Ser canto, sereia, pedra e mar. Como ser música, beleza, fortaleza e imensidão? A ilusão aprisiona, mas também salva. O real amadurece, porém esfacela aos poucos. A água é inconstante, o marejar é selvagem, a fruta apodrece e a vida se torna mais encorpada e enrugada. Distante se torna o nosso olhar para com nós mesmos quando a morte se apresenta e sorri. É a alegria ultrajante que vem do obscuro, daquilo que aparentemente não faz sentido, do negro da noite quando os olhos cerram para o descanso diário. Não querer esse sorriso é uma negação do que somos. Mas também não conseguimos abrir os braços para a fatalidade do nosso destino. É tanta semente, tanto suor, tanta lágrima, tanto esforço, tanto plantio... E lá na frente: uma cruz. É o que nos resta. Sejamos, então, por falta de opção, alertas, felizes, feitos de pulsão e ondas. Vivemos num empréstimo com fim determinado. A cada dia uma pancada de água e espuma na praia: repetições do destino sem piedade. Mas sobrou uma aliança com a circunstância: esperemos a colheita. Boa noite.

sábado, 12 de novembro de 2011

Infinito em um


Sabia que em algum momento iria conhecer a obra de Alice Ruiz e chegou a hora. Nada como uma boa oportunidade de estar numa bienal do livro para encontrar uma coletânea com um preço convidativo. Já suspeitava que seria um amor literário a adentrar no meu universo, então não precisei fazer esforço para ficar deslumbrada com os poemas da mulher que compartilhou grande parte de sua vida com outro grande poeta, Paulo Leminski.

Paranaense, Alice nasceu em 1946 e, além de poetisa, também é considerada uma tradutora em potencial. Seu primeiro livro foi publicado aos 34 anos e chama-se "Navalhanaliga". Até agora, a escritora já publicou 19 livros, entre poesia, traduções e uma história infantil. Especialista na modalidade haikai (formato de poesia japonesa), ela dá aulas sobre o assunto buscando despertar nos alunos os poetas loucos que podem existir dentro deles.

Na obra "Dois em um", editada pela Iluminuras, está reunida toda a publicação de Alice Ruiz produzida na década de 80. O livro, que ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia em 2009, traz o gosto da chamada "Poesia Marginal", passeia pelo Concretismo e arrasta o tom oriental em seus versos. "Dois em um" bem que poderia se chamar "Infinito em um", de tão rico de possibilidades, floreios, diversificação, inovação e sabores. É livro para se divertir com profundidade, degustando a objetividade latente que traz verdades da natureza humana. E com essa soma de contradições é que a obra se torna grande: emociona, transborda e revela. Pra que mais?

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Poeminhas:

"depois que um corpo
comporta outro corpo
nenhum coração
suporta o pouco"

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"a data de hoje
a data da tua vinda
fosse outro ano
seria vida"

sábado, 24 de setembro de 2011

"Dez (quase) amores"





Há algum tempo já vinha namorando o livrinho "Dez (quase) amores" por onde passava, seja em livraria, seja em bancas de revistas ou supermercados. Desta vez, levei-o para casa achando que custaria R$ 13,00, como estava na etiqueta, mas não, passou no caixa por R$ 9,90. Amei!

Com uma capa divertidíssima, o livro tem 127 páginas e é editado pela L&PM Pocket (adoro essa coleção, principalmente por chegar ao leitor com mais facilidade devido ao preço e por ser achado nos mais diversos lugares). A autora, Claudia Tajes, é uma gaúcha de 1963 e que já tem seis livros publicados, entre eles "Dores, amores & assemelhados" (provavelmente minha próxima aquisição; se bem que no momento estou à procura de obras de Caio Fernando Abreu).

Confesso que uma das coisas que me chamou a atenção para o livro, mesmo ele estando fechado com aquele plástico básico, foi a sinopse (ou seria prefácio?) feita por Martha Medeiros (declaradamente minha ídola das letras), que se derrama em elogios ao livro. Ela conta que a obra tem "tiradas impagáveis" e funciona como "puro entretenimento".

Os dez (quase) amores são divididos em dez contos que dão continuidade às histórias anteriores, mostrando o caminho percorrido pela personagem, Maria Ana, pelo mundo das atividades amorosas. Cada "meio amor" é contado de forma leve, lúdica, beirando a velha conversa do "rir de si mesmo". A personagem não se vê num conto de fadas e tem consciência disso. Apenas vai vivendo o que a vida lhe oferece, sem medos, mágoas e boicotes aos próprios sentimentos.

As histórias são engraçadas, parecem reais, por isso mesmo denotam mais uma aura de comédia do que de romance. O legal de Maria Ana é que ela parece uma mulher igual a tantas outras, que só estão em busca da felicidade, pois como diz Martha Medeiros, "enquanto não pinta o homem certo, ela vai se divertindo com os errados". Bom humor é a tônica do livro. E quem não gosta de dar boas risadas?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"Feliz por nada"


Antes de expor minhas impressões sobre um livro, costumo contar como cheguei até à obra. Pois então... Desta vez foi de uma forma inusitada: simplesmente vi um apresentador de programa televisivo (Faustão) anunciar a nova obra de Martha Medeiros chamada “Feliz por nada”. Ou seja, um programa de auditório me informou sobre a novidade e fui correndo buscar mais detalhes na internet. A escritora tinha lançado o livro há poucos dias em algumas livrarias do Sudeste.

Como não perco tempo em se tratando de Martha Medeiros (tenho quase todos os livros dela), procurei saber se já tinha pra vender na livraria (Escariz) da minha cidade, mas já imaginava que não iria encontrá-lo por ter sido publicado recentemente. Então, fui logo ao site da Livraria Cultura e fiz o pedido. O livro custa R$ 31 e chegou rapidinho, até antes do previsto.

Mas vamos à obra: este novo livro de Martha Medeiros reúne crônicas de junho de 2008 a maio de 2011, todas publicadas nos jornais Zero Hora e O Globo. Assim como tantos outros livros dela, este também foi editado pela L&PM Editores, seguindo os padrões anteriores e totalizando uma coletânea de textos que ela vem publicando em periódicos.

Logo de cara, a dedicatória já revela o teor das narrativas que vão falar das peripécias sentimentais de homens e mulheres que buscam ser felizes: “Pra Katia, que vive me lembrando que a felicidade não precisa de motivo”. Mais tarde ela explica mais sobre a felicidade na crônica “Feliz por nada”, que dá nome ao título: “Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio”.

O texto “A morte como consolo”, a princípio provocativo, mostra que termos a consciência de que vamos todos morrer é algo positivo porque pode nos tirar da prostração e nos içar para a luta da vida, para a alegria do desafio. Tiradas incríveis também aparecem em várias de suas crônicas, a exemplo de: “Quem pensa demais não vive” (p. 64); “Aceitando que a valorização do banal é a única atitude que nos salva da frustração” (p. 91).

Crônicas

É claro que crônicas às vezes nos soam temporais, principalmente por tratarem muitas vezes de temas de determinados períodos, mas Martha Medeiros sempre vai além porque fala da vida interior, esmiúça sentimentos, garante claridade de pensamentos e alivia a alma de quem busca na palavra a salvação com a identificação de suas dores e alegrias.

Nestas mais recentes crônicas, Martha confirma sua singeleza e sensibilidade ao tratar de temas tão íntimos do ser humano, além de traçar paralelos com o cotidiano de confusões e acontecimentos deste século. A leveza do texto, a objetividade do conteúdo e a entrega à palavra fazem de sua literatura uma das mais ilustres desse Brasil em plena era do dia-a-dia tecnológico e composto de banalidades.

A escritora

Romancista, cronista e poeta, Martha Medeiros já teve suas obras adaptadas para o cinema, a TV e o teatro. Sobre essas pontes com outras artes, ela demonstra satisfação e diz que não se incomoda com as alterações que são feitas quando uma obra precisa ser adaptada para determinado veículo. Comunicativa, normalmente é “obrigada” a explicar aos leigos que seus textos são literatura e que as pessoas não precisam necessariamente confundir a vida pessoal do autor com as histórias que ele conta. E faz isso com delicadeza.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Selma e Sinatra": não olhem a capa


Mais uma vez, vamos a uma obra de Martha Medeiros: “Selma e Sinatra”. O título soa estranho, um tanto brega, assim como a capa, que traz o rosto desfocado de uma senhora mostrando algumas joias. Se dependesse dessa antipropaganda que a editora Objetiva fez questão de publicar, não compraria o livro. Adquiri-o por causa do óbvio: a autora. Sou aficcionada pelas suas obras e não poderia deixar passar essa que se mostrava, um tanto estranha, confesso, na estante da livraria.

Tratado como romance, o livro traz uma narrativa com muitos diálogos entre as personagens principais: duas mulheres diferentes que se encontram devido a um projeto em comum. Selma é uma idosa que foi uma famosa cantora anos atrás e faz acordo com uma editora para produção de sua biografia. Guta é uma jornalista com sede de descobertas, contratada pela editora para fazer a biografia de Selma.

As duas se encontram diversas vezes, mas Selma sempre se esquiva de dizer o que Guta espera ouvir. A jornalista acha que fazer uma biografia de uma vida simplória, polianesca e digna de um conto de fadas não traz nada de novo aos fãs da cantora. A partir daí, começa o embate das duas. Guta quer convencê-la de que uma vida sem atropelos e conflitos não existe e que ela deve expor os seus dramas. Selma, por sua vez, diz que cada um carrega a máscara que lhe convém e que os outros só devem saber aquilo que a pessoa tem vontade de expressar.

O texto é muito bem escrito, assim como tudo que Martha Medeiros faz, mas o livro não chega a ser dos melhores. É mais um para se ter na estante, para refletir sobre certas questões inerentes à natureza humana, pois como a personagem Selma diz: “A convivência humana é um teatro sem fim”. Em outra passagem, uma frase brilhante para fazer pensar: “(...) E o que eu penso sobre mim mesma já deixou de me incomodar”.

Como dizem por aí, a leitura pode ser feita “num piscar de olhos”. É fluente, goza de estilo fácil em 129 páginas feitas para se deleitar. Martha Medeiros encanta mesmo quando sua obra parece infértil. É o tom da sua palavra e da sua narrativa que vence sem precisar de medalhas ou troféus. “Selma e Sinatra” merecia outro título, outra capa, mas seu conteúdo vale a pena: excepcional.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Não é para entender...


Dor que se carrega nas entranhas do tempo e faz com que desçamos os degraus do equilíbrio para chegarmos à violência animal. Extintos, vagueamos por entre castelos de agonia e perdição. Aquela areia não serve mais para a construção da coragem. A brita virou pó e agora nem brilha mais neste chão de sentimentos desgastados pelo vento da desimportância. Caminhemos nos trilhos, já que o trem da conquista descarrilhou de vez. A vitória, destituída de percalços, não tem gosto e nem cheiro: é incolor e pálida. Estranho seria pensar que o sorriso poderia garantir um caminho ameno, mas apenas levanta as revezes da vida. Bichos que somos, lançados ao fogo a todo instante, dançamos sem saber o tango do desespero. Gostem ou não, gozem ou não, somos diferentes, latentes e formigantes. Pulso palpitante na veia da realidade.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Água impiedosa


Indignação de corpo rejeitado, deitado na sarjeta dos sonhos, pisado numa calçada de feira qualquer. A fome pede um olhar direcionado para dentro, um conforto dos sentidos, um apaziguamento das sensações. Flor de angústia a desabrochar no peito onde todas as facas são cravadas. A sede vem forte: arrasta uma água impiedosa a descer goela abaixo. As necessidades básicas viram dificuldades mórbidas. O gosto do desprezo sai mais amargo que aquele café sem açúcar. E aqueles que deveriam amar, ah, aqueles... não sabem enxergar. São os cegos do egoísmo. O mundo não está preparado para oferecer o alimento. E aceitar a baixeza da realidade é cruel demais. O jeito é cuspir farpas: fogo da mudança acenando ao longe.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Despedida


Sou feita de músculos cristalizados pela água que já se foi e seguiu rumo ao resfriamento da distância. Meu couro treme de amor contido e ódio enlatado, pedindo esticamento das vértebras da realidade. Feita de fumaça, caminho com aquele bolor do cigarro de bali e me apaixono pelas plantas espinhosas da calçada. A estrada é comprida, a vida nem sempre, mas a dor é prolongada além da encosta. Vivo um sonho extasiante onde cada pedaço de meu corpo se contorce com a chegada do vento. Meu ventre balança, sacoleja por entre vontades e agonias. Nem sei onde fui deixar meu lenço cheio de memórias. Deve ter sido a fúria da chuva que carregou minhas saudades, antes marcadas num pano velho e empoeirado. Neste momento, me despeço do amanhecer, dou de cara com o desconhecido e arranco aquele grito abafado. Contração. Nostalgia. Somente só.

domingo, 24 de abril de 2011

Agenda de Martha Medeiros


Boa noite, seguidores! Depois de tanto comentar no twitter sobre a vontade de adquirir a agenda de Martha Medeiros 2011, venho aqui para confirmar: comprei, mesmo já tendo passado os primeiros 4 meses do ano. Decidi que não iria mais comprar porque tinha ganhado uma agenda, claro que nada comparado a essa agenda produzida pela L&PM Editores. Mas aconteceu o que deveria ter acontecido há algum tempo: chegou a agenda na Escariz, livraria aqui de Aracaju. E, vendo, pegando, sentindo, não resisti e levei pra casa.

O papel parece ser couchet, as cores são vibrantes, em cada página há uma frase da escritora, sem contar no extremo bom gosto da diagramação e editoração do material. Fiquei encantada e recomendo. Eu, que sou fã de Martha Medeiros e tenho quase todos os seus livros, não poderia deixar de ter na minha estante uma ideia tão genial. Segredo: se as editoras inventassem de criar agendas ou livros comemorativos de grandes escritores com frequência, eu estaria $ perdida...kkkk

Bom, é isso. Segue abaixo algumas frases que estão na belíssima agenda de Martha Medeiros.

"Quando dou pra ti, sou mulher
/ Quando dou por mim, solidão"

"Sorria! Seus pensamentos secretos
não estão sendo filmados"

"Desisti de esperar por alguém cuja ausência me faz companhia"

sábado, 23 de abril de 2011

Violência

Por que as coisas não podem não ser? Dizem que nada é imutável neste mundo. Mas existem regras sociais que nos fazem conviver com certas pessoas enquanto estivermos fazendo parte desta existência. Até mesmo quando já estamos separados fisicamente, a sombra daquilo que já se viveu um dia, volta a atormentar, como se nunca tivesse se desvinculado do passado. Pior ainda é quando se percebe que o que já passou, na verdade, continua a existir. Intragabilidade do tempo, revolta do ser, negação do real. Somos fantoches da desesperança, flocos de angústia na imensidão da dor e choro contido por não extravasar a fome do que faz bem. Viver é uma violência.

sábado, 9 de abril de 2011

Precisa endoscopia?

A vida querendo voltar pela goela, desejando não ser engolida. Sensação de realidade vomitada, exaurida, expurgada do caminho que deveria percorrer. O ventre se dilata para entender a regurgitação e nada de seguir os trâmites da digestão da existência. Fica, alimento, mesmo carregado de dificuldades, pesadelos e um passado nada esquecível. Pra que essa fúria dentro do corpo? Desliguemos as turbinas do retorno. O que já está na estrada deve seguir adiante. Voltar, neste caso, é regredir. Vamos engolir esse jiló com paciência, força, determinação e sabedoria. É hora de deglutir com leveza, aceitando o feijão com arroz com alegria e esperando pelo salmão ao molho de maracujá que chegará ao prato do amanhã. A esperança nos move e nos joga na responsabilidade da digestão bem feita. Vamos pra frente. No fim, tudo vai embora e só restam os saldos positivos: o aprendizado e a experiência. Aminoácidos, proteínas, carboidratos e lipídios, podem entrar!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Show de Roberta Sá no TTB





Gente, saindo um pouco da literatura e entrando no campo da música, preciso externar toda a minha felicidade ao assistir ao show de Roberta Sá e Trio Madeira Brasil no Teatro Tobias Barreto. A minha ideia é que o Artscritta não fique restrito somente à literatura, pois sou amante das artes e quero comentar aqui tudo aquilo que me fizer pensar, refletir, contemplar ou somente sentir, o que já é grande coisa.

Apesar de Roberta Sá não ter tocado uma só música do repertório do seu primeiro disco, o público vibrou e dançou junto com ela em cada melodia. Vi uma Roberta Sá muito mais solta do que no DVD, com uma presença de palco incrível, uma voz extremamente afinada, um jingado exclusivo e uma luz especial. Foi realmente um momento maravilhoso, tanto para os fãs, que não se furtaram em tirar dezenas de fotos perto do palco, quanto para ela, acredito eu, devido à energia passada durante esse espetáculo tão mágico.

Sou muito fã dela e por isso não tive medo de parecer ridícula ao me meter em tietagens. Segurei na mão dela sim, fiquei super feliz quando a vi cantando e olhando pra mim (sei que era pra mim, outras pessoas vieram me confirmar isso também) e ainda tirei fotos ao final do show. Esperei, assim como mais outras 15 pessoas (penso eu), e consegui a tal foto de rosto colado com a dama do remelexo sincopado e estonteante.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cartas extraviadas e outros poemas


Ontem finalizei a leitura do livro "Cartas Extraviadas", de Martha Medeiros. É uma obra que contém diversos poemas falando de amor, de desilusão, solidão, esperança e principalmente reflexão. Sou fã e já falei apaixonadamente da sua obra várias vezes aqui no Artscritta. Segue abaixo o poema que se encaixou perfeitamente naquilo que estou sentindo. Tocou-me profundamente:

"Dia após dia o mesmo prato requentado
tarde da noite e nada aconteceu
desperto no escuro
ainda é cedo pra acreditar
que vai haver futuro e que vale a pena
esperar de banho tomado"

quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma concha à beira mar


Queria uma concha para me esconder desse mar rotineiro e pesadamente salgado. Ficar na areia, à espera de uma salvação que me leve para bem longe deste oceano de ofensas à dignidade de viver, onde eu pudesse estar coberta com uma manta grossa, completa, amarrada em meu corpo febril e vomitante. Ando a passos lentos, mal deixo pegadas e ainda faço questão de apagar o meu rastro. Sou destinada ao vento, aos devaneios, aos cabelos em desalinho. Tenho ardência no coração e firmeza no pulsar. Vivo a canseira dos dias iguais e sigo em frente, simplesmente por não ter uma opção vulcânica que pudesse pulverizar os meus sonhos e meus ideais. Deito na vida e me enrolo em um lençol de amenidades, olhando para os lados, certa de que vão me resgatar da monotonia da realidade.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O grito


Onde mora o grito mais intenso, aquele que vai destratar os ouvidos mais sensíveis? Acho que ele está aqui dentro, querendo volume e expansão. Vou aumentar os decibéis desta voracidade em forma de som aguçado e soltar o grosso dessa vontade. A repressão precisa fugir, essa desorientada que só flagela o corpo que ocupa. O acúmulo deve ser explorado, esquartejado e distribuído para desembocar no ar de fora. E é nesse mundo das confusões que a vida se torna um desafio: tratamento da água impura em bebível nesta realidade onde o esgoto teima em ser mais forte. Garganta coçando, laringe esprimida, estômago em desalinho. O grito sai. Cada vez mais incisivo, aliviante, desafiador e cortante, rasgando regras externas. Depois, até os braços se levantam, quase que instintivamente, num abraçar de prumos e ar se fazendo alegria. A partir de agora, outros gritos virão...

* Parte da tela "O grito”, de Edvard Munch

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ménage à Trois


Mais uma vez, começo a análise minúscula de uma narrativa contando como a obra chegou até as minhas mãos. Gosto dessa relação inicial de encontro entre livro e leitor: parece amor à primeira vista, tesão às primeiras folheadas. No meio dos livrinhos da L&PM Pocket, catando coisas inusitadas, me deparo com o título “Ménage à Trois” e ainda uma capa belíssima, em tons de rosa e vermelho. Logo abaixo do título, à direita, aparece “Eu versos eu / sem vergonha / mundo da lua / e outros poemas”. Olhei o conteúdo rapidamente e, sim, me apaixonei. Adoro essas descobertas literárias, solitárias e simbólicas.

Pesquisando sobre a história do livro, descubro que ele é composto dos três primeiros livros da escritora Paula Taitelbaum, desta vez todos reunidos em um só volume da coleção L&PM. Publicado em 2006, o livro revela um misto de angústia, erotismo, sensibilidade, ritmo, musicalidade, enfim, poemas diluídos em sentimentos e sensações. A obra toca lá dentro, onde só nós alcançamos quando estamos em estado de extremo ópio existencial.

Os poemas gozam de um senso de humor escrachado, delicioso: “Abre as pernas / E fecha os olhos!”. Outras vezes nos faz pensar em coisas simples que dizem muito: “Eu mando você tomar banho / Eu lavo a alma”. Já em outros casos, aparece um poema duro, sem alívio: “Demito minha paixão da coerência / E sem qualquer aviso prévio / Levo meu corpo à falência”. Ainda dentro do erotismo vulgar e sarcástico, encontramos: “Esse infeliz só me vê como uma boceta / Porque no lugar de neurônios / Ele tem gametas”.

Acompanhe abaixo um poema:

Um dia
Você se dá conta

Que a paixão
Não vem pronta
Nem fica tonta
Por tanto tempo
Os modos

Mudam
Os medos

Nos fazem mudos

E o que era tudo

Torna-se agora médio
Que remédio...
Senão matar esse pavor
Com um amor
Maior que o tédio

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eu sei que sou


Eu rasgo pensamentos como quem desfia um tecido estridentemente, primeiro cortando com a tesoura a primeira brecha de ideias. Forço palavras que não são minhas, só para me salvar. Danço conforme a melodia, numa espécie de samba do bem viver. Desperdiço fantasias, glórias e vantagens. Vivo no submundo dos sentimentos. E de lá não sei se quero sair. Ou se saberia sair. Ando caindo ou caio andando toda vez que sinto meus dentes trincarem de prazer ou de dor. Sou efêmera, voraz e latente. Vou de um lado a outro da história sem ninguém perceber. Garanto coragem e inovação, mas só para fora. Por dentro, ai ai, sou doce de leite derretido em chapa quente, sou o avesso do sal, a seca da felicidade. Um dia saio mato afora pra ver se me acho mato adentro. Ou então mato.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Liberdade submersa


Cheiro leve, distante, confuso da libertação. Onde se esconde essa pequena-grande festa do espírito? Em que mentes livres deve atuar esse sistema que desaprega amarras, manifesta a plenitude do ser e ainda abre os braços para mostrar ao mundo seu potencial? Deve morar no mundo das não-explicações, onde só os mistérios podem pousar e agraciar com seu colorido envolto no véu da surpresa. Só lá é que a vida guarda seus segredos e faz teatro com os nossos corpos agitados numa rede de ligações sem solução. Precisamos ser resgatados do fundo de nós mesmos: vir à tona, transbordar e dar o tom das próprias limitações. Só assim a leveza fará parte da nossa existência, o céu se tornará mais claro e o chão será mais seguro. Andemos, pois!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Convulsão


Já sonhei com flores azuis que me diziam para não esquecer o futuro, porque é a partir dele que surgirá o pingo amarelo que reluzirá o meu chão. Como alguém que segura uma lanterna natural, a vida se abrirá perfeita e ensolarada, dizendo sim aos momentos, às angústias e às alegrias. Porque o que interessa é a aceitação do que existe, do que está agora, aqui dentro, fazendo chocar sonhos com realidade. Enquanto o senhor do tempo não apressa as horas, fico aqui a me debruçar sobre o presente, olhando para o que está em volta, para o vazio desse instante tão pueril. Segundos me tomam o ar, secam a minha garganta, reviram o meu estômago. Entro em convulsão de mim mesma. Sou, agora, língua enrolada de desejos. Por favor, tragam meu Gardenal. Chega de epilepsia emocional.