sábado, 4 de outubro de 2014

Coleção de pérolas tristes


Pego poemas na escuridão e tento decifrar. Faço de conta que não vejo os nós no colar de pérolas e entrego para a vida aquilo que deveria ser minha função. Espero que ela desate e deixe meu colar como era antes: perfeito, redondo, desembolado, bonito. Mas descobri que, até mesmo quando estava somente reto, escondia suas curvas. As dobras apareciam quando era pendurado no pescoço. E mesmo assim bate um desejo ambíguo, uma vontade de que esse objeto se quebre e voem pérolas por todos os lados, dando fim a uma trajetória de enfeite. Certa vez o escritor Rubem Alves disse que ostra feliz não faz pérola. Significa que andamos por aí com um colar de possíveis desacertos, desarranjos e descaminhos. O mais interessante é que a tristeza tem sua beleza: pérolas emitem uma sensação de tradição, sobriedade, riqueza e poder. Elas existem: isso é fato, é real. Precisamos conviver com as pérolas da vida e ter foco sempre no significado de cada uma, buscando sempre desfazer os nós.