quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O grito


Onde mora o grito mais intenso, aquele que vai destratar os ouvidos mais sensíveis? Acho que ele está aqui dentro, querendo volume e expansão. Vou aumentar os decibéis desta voracidade em forma de som aguçado e soltar o grosso dessa vontade. A repressão precisa fugir, essa desorientada que só flagela o corpo que ocupa. O acúmulo deve ser explorado, esquartejado e distribuído para desembocar no ar de fora. E é nesse mundo das confusões que a vida se torna um desafio: tratamento da água impura em bebível nesta realidade onde o esgoto teima em ser mais forte. Garganta coçando, laringe esprimida, estômago em desalinho. O grito sai. Cada vez mais incisivo, aliviante, desafiador e cortante, rasgando regras externas. Depois, até os braços se levantam, quase que instintivamente, num abraçar de prumos e ar se fazendo alegria. A partir de agora, outros gritos virão...

* Parte da tela "O grito”, de Edvard Munch