quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O grito


Onde mora o grito mais intenso, aquele que vai destratar os ouvidos mais sensíveis? Acho que ele está aqui dentro, querendo volume e expansão. Vou aumentar os decibéis desta voracidade em forma de som aguçado e soltar o grosso dessa vontade. A repressão precisa fugir, essa desorientada que só flagela o corpo que ocupa. O acúmulo deve ser explorado, esquartejado e distribuído para desembocar no ar de fora. E é nesse mundo das confusões que a vida se torna um desafio: tratamento da água impura em bebível nesta realidade onde o esgoto teima em ser mais forte. Garganta coçando, laringe esprimida, estômago em desalinho. O grito sai. Cada vez mais incisivo, aliviante, desafiador e cortante, rasgando regras externas. Depois, até os braços se levantam, quase que instintivamente, num abraçar de prumos e ar se fazendo alegria. A partir de agora, outros gritos virão...

* Parte da tela "O grito”, de Edvard Munch

3 comentários:

Lívia Lessa disse...

"E é nesse mundo das confusões que a vida se torna um desafio" pensamento mais pertinente à vida contemporânea, à esse imediatismo, velocidade absurda e instabilidade.

Mais uma vez, parabéns pelo texto, menina!

@livialessa_l3

zenaide Aguiar disse...

Onde mora esse grito? Ué, na alma.
Esse grito pode ter vários sentidos, pode simplesmente apenas agredir os ouvidos, é claro dos ouvintes, mas na minha interpretação pode ser algo mais de liberdade ou melhor de libertação que o ser humano tanto necessita. Numa experiência de transcendência, um alto vôo da alma pode resultar num grito estrondoso sem destratar os ouvidos, mesmo os mais sensíveis.

Ítalo Marcos disse...

Esse seu grito equivale a um "libertas quae sera tamen". Vc transforma angústia em liberdade como ninguém..