quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Clássicos adaptados para crianças
Os livros podem ser comprados no site da Livraria da Folha e custam entre R$ 23 e R$ 38.
sábado, 24 de outubro de 2009
Amortecido
Queria alinhavar o instante, pregar botões pra dar estabilidade ao tempo e ao pano, costurar em zigzags sem sentido, só pra ver a força da estampa amaciar um corpo. Mas, antes, preferia descer por entre escadas, entre salas, entre valas, até o bueiro mais próximo da minha infernidade. Tudo isso só pra ganhar córrego, captar sementes, sortear desgostos. Não, definitivamente não. O que está lá dentro deve ser bom, mas inatingível. Como vivo de negativas, enxergar o invisível é esforço pra lá de humano. E a minha humanidade já anda cansada. Talvez devesse ser fada. Ou anjo. Ou desdém. Deveria querer o sonho, a leveza, o menor impacto possível. Enfim, amor...tecido.
Texto: Lara Aguiar
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Dia da Sergipanidade
HORÁRIO | ATRAÇÃO |
15H | ABERTURA |
15H10MIN | LIRA SANCRISTOVENSE E ABRAÇO À PRAÇA SÃO FRANCISCO (COM ALUNOS DA REDE PÚBLICA ESTADUAL, MUNICIPAL E PARTICULAR DE ENSINO, ALÉM DO PÚBLICO PRESENTE) |
16H | APRESENTAÇÃO DE GRUPOS FOLCLÓRICOS |
16H05MIN | TAIEIRA |
16H25MIN | SAMBA DE COCO |
16H45MIN | ARTISTA LOCAL: JORGE E FÉLIX |
17H05MIN | APRESENTAÇÃO DE GRUPOS FOLCLÓRICOS: CACETEIRA |
17H25MIN | REISADO |
17H45MIN | ARTISTA LOCAL: JOÃO ROSA |
18H05MIN | APRESENTAÇÃO DE GRUPOS FOLCLÓRICOS: EMBOLADOR |
18H25MIN | SAMBA DE CÔCO |
18H45MIN | ENCERRAMENTO LIRA SANCRISTOVENSE |
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Coagulações
Estou ocupada em morrer. Não consigo matar, nem a mim nem aos outros. Resta-me a entrega ao obscuro. Será que lá tem luzes e um velho aconchego conhecido? Ao meio-dia espero o sol rachar meu desgosto, meus seios fartos de amor intenso, minha sorte mal herdada. Quando essa hora chegar, quero estar alerta para alcançar a vitória de uma derrota anunciada. E no exato momento do corte, estarei plena de todos os ódios, e verei todos se dissipando, virando farelo de sangue preso e coagulado. Lá embaixo, diante da própria queda, poderei vislumbrar o que perdi. E aí terminarei como num filme real, constatando a miséria de ter vivido seca, embaixo de uma sombra medíocre e infértil. Quando a dor quebrar até a última esperança, eu acordarei. Com a angústia rodopiando, eu sei. Mas ainda soltarei aquele sorriso só meu, pra dentro, de canto de boca. E serei outra, renovada, ofegante, lendo no espelho a chance de ainda mudar o traçado.
Texto: Lara Aguiar
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Contos de Lucia Castello Branco
Em seu livro “Contos de amor e não” – que título sugestivo hein? -, publicado pela editora Lamparina, Lucia Castello Branco derrama realidade com seus encontros e desencontros, tratando sem piedade dos revezes do amor, salientando a grande probabilidade do “talvez”, tão corriqueiro nos estados de paixão. Sinestésica até o último “não”, a linguagem de Lucia perpassa pelo mundo dos opostos, das contradições, das vontades e desvontades de que é feito o amor.
Digitei logo abaixo um dos textos de "Contos de amor e não":
“Talvez”
“Amanhã nos falaremos. Talvez...”
Então isso era tudo? Era assim que ele a abandonava? Antes o senhor do silêncio, depois o senhor das sofreguidões, depois outra vez o senhor do silêncio, assim em meio às reticências, era esse o tudo a que se reduziam tantas palavras ditas e por dizer?
Ela atravessava a rua, retirava o batom, a gargantilha, os anéis. Ela retirava a gargantilha e, nesse gesto seco, áspero, era como se a mão dele ali estivesse a lhe cortar a garganta. “Nunca mais lhe direi” – ela pensava – “nunca mais lhe direi”.
E caminhava, passos lentos, como quem pudesse se abandonar à noite. Nos sinais de trânsito, os meninos, subitamente transformados em palhaços de circo, engoliam fogo. Isso era a desgraça: pequenos homens, meninos ainda, engoliam fogo. E ela, que mal conseguia engolir as próprias lágrimas enquanto atravessava a rua, tinha medo de que o pescoço não suportasse a gargantilha de contas negras, não sustentasse a cabeça de pensamentos baços, não suportasse os ombros sem memórias de afagos, sem futuros de afagos, sem afagos vãos.
“Meu Deus” – ela se lembrou – “preciso ainda comprar algumas gotas de chocolate para adoçar a boca de meu pequeno”. Sim, o filho, também um menino que amava fogo, havia ficado sentado no canto da cozinha, implorando por gotas de chocolate.
Mas, a essas horas, já não havia lojas abertas. Já não havia chocolates, nem meninos insones, nem vozes de criança. O que havia era a noite e o aberto da noite e o aberto de uma garganta que não diria nenhuma das palavras que a noite lhe pedira, e o aberto de um céu sem estrelas e de um amor suspeito.
Até que, do outro lado da serra, ela avistasse a lua. Branca a noite sem estrelas, mas havia a lua.
Aberto, como se a convidasse à suspensão, o manto da noite a envolvia. Como a envolveriam os braços dele, se possível fosse dilatar a noite, como a envolveriam os meninos engolidores de fogo, se ela se entregasse a seus afagos, como a envolveriam as palavras enfim pronunciadas se a garganta em soluços sufocada não fosse interrompida pela lâmina fina de um talvez.
Mesa Redonda sobre Núbia Marques
O evento contará com a participação de Gizelda Morais (coordenação), Beatriz Góes Dantas, Jackson da Silva Lima, Sonia Barreto e Wagner Lemos, e acontecerá no Mini-Auditório da ASL, rua Pacatuba, 288, Centro de Aracaju.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
O peso da contração
Angina pectoris da alma
Só que dessa não se morre. Mas tudo, menos a angústia, não? Quando o mal vem, o peito se torna estreito, e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que antes se chamava alma e agora não é chamada nada. E a falta de esperança na esperança. E conformar-se sem se resignar. Não se confessar a si próprio porque nem se tem mais o quê. Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.