segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Oração especial

A revista Lola deste mês de dezembro traz um artigo de Hilda Lucas sobre a coragem de se apaixonar, principalmente pela própria vida. O mais interessante é quando ela enfatiza que o perigo está quando nos acomodamos ao próprio cotidiano engessado. Durante o texto, ela cria duas formas de oração para os "corajosos e lúcidos", como ela mesma diz e que eu transcrevi abaixo:

Senhor, protege-me das prisões do comodismo, da platitude e da estagnação. Dá-me coragem, loucura e tesão para viver sem medo de mim e dos meus sonhos. Dá-me asas e ventos, insônias e angústias, inquietações e algum sofrimento, para que eu possa dizer sim à Vida.

Assombra-me, Senhor! Não permita que eu me afaste do que me identifica, que eu esqueça o que me alegra ou cale o que me traduz. Insufla-me, instiga-me, exige-me ser. Livra-me dos boicotes e adiamentos que eu mesma me imponho. Dá-me paz e paixão, alternadamente, como a chuva e a estiagem - já que uma só existe quando a outra desiste. Faz-me entender que há mais dano no medo de viver que no medo de morrer.

Precisa dizer mais alguma coisa? Desejemos o desafio da vida, porque aí está a graça da existência!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mar e terra - Uma lembrança

Ser canto, sereia, pedra e mar. Como ser música, beleza, fortaleza e imensidão? A ilusão aprisiona, mas também salva. O real amadurece, porém esfacela aos poucos. A água é inconstante, o marejar é selvagem, a fruta apodrece e a vida se torna mais encorpada e enrugada. Distante se torna o nosso olhar para com nós mesmos quando a morte se apresenta e sorri. É a alegria ultrajante que vem do obscuro, daquilo que aparentemente não faz sentido, do negro da noite quando os olhos cerram para o descanso diário. Não querer esse sorriso é uma negação do que somos. Mas também não conseguimos abrir os braços para a fatalidade do nosso destino. É tanta semente, tanto suor, tanta lágrima, tanto esforço, tanto plantio... E lá na frente: uma cruz. É o que nos resta. Sejamos, então, por falta de opção, alertas, felizes, feitos de pulsão e ondas. Vivemos num empréstimo com fim determinado. A cada dia uma pancada de água e espuma na praia: repetições do destino sem piedade. Mas sobrou uma aliança com a circunstância: esperemos a colheita. Boa noite.