segunda-feira, 23 de maio de 2011

Despedida


Sou feita de músculos cristalizados pela água que já se foi e seguiu rumo ao resfriamento da distância. Meu couro treme de amor contido e ódio enlatado, pedindo esticamento das vértebras da realidade. Feita de fumaça, caminho com aquele bolor do cigarro de bali e me apaixono pelas plantas espinhosas da calçada. A estrada é comprida, a vida nem sempre, mas a dor é prolongada além da encosta. Vivo um sonho extasiante onde cada pedaço de meu corpo se contorce com a chegada do vento. Meu ventre balança, sacoleja por entre vontades e agonias. Nem sei onde fui deixar meu lenço cheio de memórias. Deve ter sido a fúria da chuva que carregou minhas saudades, antes marcadas num pano velho e empoeirado. Neste momento, me despeço do amanhecer, dou de cara com o desconhecido e arranco aquele grito abafado. Contração. Nostalgia. Somente só.