quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um pouco de água viva

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.

Água Viva, pág. 20 - Clarice Lispector


Esse trecho acima já diz tudo. Busquemos o que ninguém pensou, pois é nessa origem que deve estar o avesso e a contra-luz. Por que a vida tem que ter lógica? Os caminhos são vários e as retas não desembocam num quadrado. Seja!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Tempo de delicadeza



O livro que recomendo esta semana é "Tempo de delicadeza", de Affonso Romano de Sant'Anna. Já tinha outros livros do mesmo autor, mas este é imperdível. Trata-se de um conjunto de crônicas versando sobre o tema da delicadeza ou a falta dela neste mundo moderno. Como é livrinho de bolso da L&PM Pocket, custa bem barato: R$ 6,90.
Bom, ninguém melhor do que Affonso Romano para falar de delicadeza, afinal, é o escritor da palavra refinada e sutil, porém sem deixar de lado o criticismo. É servo do rigor no texto, mas ao mesmo tempo é docemente popular. Fã e amigo de Lispector, sua escrita contempla os problemas do nosso tempo. É um literato da contemporaneidade.
Poeta, ensaísta, cronista e professor, Affonso é mineiro de BH, de 1937 (ah, Minas: sempre vento de cultura). É casado com a escritora Marina Colasanti.

Obs.: O outro livro que possuo dele também é de crônicas: "Mistérios gozosos". Só este nome já não lhe deu curiosidade? Outro dia falarei dele!

Confira um trecho da crônica "Tempo de delicadeza":

"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados.
- E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados."

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Filmes do fim de semana



Ontem assisti ao filme "Control" no Cine Cult e adorei!! É uma espécie de documentário sobre a vida de Ian Curtis, vocalista da banda de rock Joy Division, no final da década de 70. Bom, não conhecia a banda, muito menos ele. Mas amei as músicas, a qualidade do filme, a história retratada. Não sei se é porque adoro ver temas depressivos em forma de arte. Talvez tenha me identificado com aquela dor de suportar o mundo, pois quando a sensibilidade é cortante, viver é um suplício. E Ian era assim: um ser que vivia intensamente e se doava tanto na música quanto nas questões amorosas. Decidir se era melhor viver suas vontades ou fazer a felicidade alheia talvez tenha sido a grande dúvida de sua vida. No mínimo, o filme vale pela trilha sonora, que nos apresenta um som bem diferente do que estamos acostumados a ouvir. Recomendo!

Ah, e hoje assisti "Coraline". Só de ter Tim Burton como produtor, já me animei. Bom, o filme é bem doce, com uma personagem carente e solitária que se depara com uma nova realidade. Palmas para os efeitos, as dimensões de espaço alcançadas, o escuro que torna a história sufocante, as viagens psicodélicas e turvas. Em alguns momentos o filme parece frear demais, e em outros surpreende com um humor mais trash. Aliás, terror é o que mais tem. Não recomendo para crianças, porque não é fofinho como um conto de fadas. Está mais pra "Edward Mãos de Tesoura" do que para "Madagascar". Mas, enfim...Coraline é linda de cabelo azul e expressões abastecidas de ingenuidade.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Para onde olhar?

Já sabemos que as dores fazem parte da trilha. E podem ter certeza de que a dor da perda de alguém a quem devotamos o nosso amor, nunca cessa. Ela pode até adormecer por um tempo, ficar guardada onde nem imaginamos, se esconder por entre tristezas várias. Mas ela volta. Ah, pode apostar. Quando a vida parece mansa, aí basta um 'start' para as lembranças se abrirem em leques de degustação. Então...ou deixamos a lágrima escorrer, ou prendemos o momento e agredimos a essência que estava pronta pra ser explorada.

Pode ser até clichê essa conversa de cicatriz, mas se levada ao pé da letra, realmente faz muito sentido. Pois é, a ferida quando está nova, dói demais, melhor nem mexer. Já quando vira cicatriz, não dói mais como antigamente, porém, deixa marcada a pele dos sentimentos para sempre.

E se esse alguém era para você um espelho, um modelo de vida feliz, um mestre da arte do bem-viver, aí é que o piso racha e a vida perde o tom para onde olhar. Às vezes a vontade de ter compartilhado mais aprendizados é tão grande que a sensação de abandono reclama e cria constipações no coração.

Só queria ter aprendido o melhor: a ser tão leve e forte quanto ele...

À você, meu pai, eterno amor.

Batistão reformado













Ontem foi dia de lançamento da campanha "Esporte Para Todos 2009" no Batistão. Como estive trabalhando na ocasião, tirei algumas fotos do estádio que foi reformado e aproveito para recomendar a todos o acesso ao site da Fundação Aperipê. Lá você encontrará novidades sobre o Campeonato Sergipano 2009 e informações sobre a programação das emissoras da Aperipê. Confira: http://www.aperipe.se.gov.br/

Fotos: Lara Aguiar

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sonetos que não são

Olha só que poema delicioso de Hilda Hilst. Coloquei apenas um trechinho de "Sonetos que não são", pra mim o melhor. Me inspira... faz subir um vento de inspiração e contentamento que não consigo explicar. Afinal, é só pra SENTIR...

"Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

(Hilda Hilst)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ex(in)clusão



Será que muitos alguéns já tiveram o destino da transparência? Invisibilidade que arde, sonho cego, sem alimento, a pulsar. Esquecer a vida, talvez. Mas um sim ajudaria. Sem explicações, só incertezas marejam na reta, onde outros já morreram com sintomas de estagnação. Nesse mangue, acomodada é a balança, que pesa mais pra lados obtusos. Essa aí não participa do real. E, se um dia chegar, causará espanto.
Os nobres não têm chance. Deve ser porque emergiram para fazer história, sem sorrisos, deixando o passado como lição para a doçura da hora. Ao lado, os cegos mandam ovacionar os medíocres. “Quem? O quê?”, diz a brancura do pensamento que não consegue se calar. Mas, a indecência da neblina nos olhos alheios é o que permanece. Tudo isso à espera de um estalar de dedos que diga mais do que uma idéia, que inspire novidade, levante a certeza e core de gloss a intimidade excluída.



Foto: Lara Aguiar

Disse não


Disse não ao mundo.
Falou em tom elevado o que o extra-de-si precisava ouvir.
Ou talvez aquilo que necessitava explodir.
Gritou maior que trovões.
Assustou com decibéis de trator,
destruindo a camada crespa da indiferença.
Mas quebrou mesmo foi a própria fraqueza da inconstância,
o semblante da incapacidade,
o olhar caído sobre a desilusão.
Dor de quem sabe que nada poderá mudar.
Mudou só o si, porque o lá é vazio.
Berrou tons vermelhos de ódio,
com intenções vingativas,
aquela boca caída de canto,
como quem pisa numa abelha que solta o ferrão,
sofre, arranca o espinho da dor, e mata.