domingo, 26 de dezembro de 2010

Tremendo memórias

Sou medo, seio arfante, caixa de alarmes disparados, nervo do olho a trincar. Estou no ponto do abate da vida, no instante em que as paredes parecem cair em sua direção, o poço parece mais fundo, o doce cada vez mais longe, as vozes muito mais dispersas e a solidão ganhando forma à sua frente. Queria sobreviver a este sol rachando meu presente e abrindo os poros do passado. Suando memórias, me enterro na beira do que não quer sair. Futuro é palavra longe, vagarosa. Preciso acabar agora com essa gosma de pensamentos ardidos, essa moleza selvagem que percorre todo o corpo e promove o ócio seco, maledicente e desprezível. Agora é a hora de ver o universo disparar desafios e se preparar para eles. Nunca se sabe quando o cronômetro das competições vai marcar o ponto final...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um elogio daqueles...


Esse post é só pra comentar que nesta sexta-feira, 17 de dezembro, dia do almoço com a imprensa, o governador Marcelo Déda veio até a mim com um largo sorriso no rosto, me deu um abraço e elogiou os meus textos, além de reforçar que acompanha o Artscritta. Não poderia deixar de registrar aqui esse elogio, pois vem de uma personalidade por quem nutro uma forte admiração e sei que é uma pessoa com extrema capacidade de síntese, poder de argumentação e um forte domínio intelectual, incluindo o conhecimento literário.
Obrigada, Marcelo Déda, pelo incentivo que já vem sendo demonstrado no twitter.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lista dos 10 +

Essa semana estive conversando com um colega e percebi que, assim como ele, muita gente tem preconceito com filmes brasileiros. Já que sou uma amante de filmes feitos aqui no Brasil, resolvi fazer uma listinha com 10 filmes que, para mim, merecem ser vistos. Como tem muitos filmes bons, destaco aqui aqueles que não tem temática de favela, mundo do crime, ou afins. Também não coloquei documentários. Escolhi filmes de arte, filmes que me tocaram profundamente, talvez um pouco parecidos com a sensibilidade europeia de se fazer produções cinematográficas. Gosto de filmes intimistas, um tanto verborrágicos. Se alguém aqui também compartilha da mesma opinião, então lá vai a lista por ordem de "amor ao filme".

1 – Lavoura arcaica

2 – À deriva

3 - A via láctea

4 - Não por acaso

5 - Romance

6 - Como esquecer

7 - Histórias de amor duram apenas 90 minutos

8 - É proibido fumar

9 - Os desafinados

10 – Batismo de sangue

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Análise literária de Ezequiel Monteiro

Pessoal, o advogado Ezequiel Monteiro mais uma vez me surpreendeu com a sua análise literária sobre os meus textos. Fiquei muito emocionada, principalmente por parecer que ele deve ter lido os anseios da minha alma, em se tratando de perspectivas na vida. Muito obrigada, Ezequiel, por fazer com que eu acredite que posso ir além.



Treze contos de Lara Aguiar

Publicado no Jornal da Cidade em 02/12/2010
Texto: Ezequiel Monteiro

Não é sem motivo que interrompo meu recesso anual. Depois de três anos sem ler nada da escritora Lara Aguiar, acedi esta semana a um bloco de treze contos de sua autoria. A primeira parte do pequeno acervo é formado de oito microcontos representativos da fase inicial da ficcionista, centrada na investigação da subjetividade e em uma expressão prosística de tênue lógica e instigante imprecisão. Já nesses textos iniciais, a jovem escritora demonstra um compromisso radical com a captura das camadas profundas da personalidade humana, pelo que a prosa resultante ressai untada da estranheza do inconsciente. Para sustentar essa originalíssima ficção, Lara Aguiar aplica uma rara habilidade no manejo das palavras que a torna desde logo o talento literário da geração atual, dando-se ao substantivo coletivo o sentido de escritores sergipanos de menos de quarenta anos. Com sua escrita artística, ela já é uma virtuose da linguagem literária. O leitor pode observar que não falo da escritora sergipana como uma contista madura, mas como um talento criador de grande potencialidade. Heidegger escreveu na sua “Introdução à Metafísica” que “ a solidão é o refúgio dos fortes” e Lara Aguiar está construindo em sua riquíssima solidão uma obra visivelmente significativa.

A segunda parte do prazeroso mostruário representa uma fase nova da experiência contística de Lara, em que a constante em busca do conhecimento das realidades humanas se desenvolve em estruturas claras e objetivas aproximando-se grandemente da ontologia da estória curta. Tenho experiência pessoal da dificuldade que o escritor enfrenta ao se empenhar na mudança de um modelo de criação artística para outro. No entanto, os cinco contos que encerram o acervo demonstram que sua autora está no rumo certo, principalmente porque no plano temático ferem o cerne da existência humana em suas aventuras de paixão e desespero. Além disso, estão vazados em uma linguagem prodigiosamente adequada à impulsão das estórias extraindo de termos “sujos” um impacto estético surpreendente e excitante. Lara Aguiar vai amadurecer seu talento literário sem passar por uma pós-graduação em teoria, em uma boa universidade? No que depender de talento, sem dúvida; mas não devemos manter nossos preconceitos contra o saber. A Secretaria de Cultura precisa descobrir o talento da geração e convencê-la da necessidade que ela tem de cursar teoria literária preferentemente em São Paulo, investindo em seu amadurecimento e acesso à plenitude de sua vocação.

Volto aos cincos contos da segunda parte do bloco de estórias de Lara Aguiar para comentar um aspecto que ainda não foi abordado neste artigo: Seus protagonistas são todos eles extraídos da juventude dos nossos dias, e vivem em um ritmo de alucinante liberdade e nervosismo. Querem viver, são apaixonados pela vida e não respeitam nenhum limite para colher os frutos de sua liberdade. A escritora, então, não é uma simples beletrista, mas alguém que vê na literatura um instrumento de conhecimento da realidade enfrentada por sua geração e de expressão desse drama existencial e social. A ficção dessa incrível escritora não se destina ao entretenimento dos leitores, mas vai mais além: desnuda a dolorosa verdade escondida pela moldura tradicionalista e puritana de Aracaju. Porém o mais prodigioso em tudo isso é que a ficcionista sergipana rasga esse largo horizonte humanista utilizando a fôrma do conto, que em princípio desenvolve um fragmento do cotidiano sem maiores pretensões. Desde o inicio de sua experiência literária, Lara
Aguiar vem tentando inovar radicalmente a “short story”. Depois que li esses treze novos contos, começo a acreditar que ela vai conseguir. De qualquer modo, precisa passar uma temporada em São Paulo para dialogar, para discutir, para sair da solidão de Aracaju. Esta cidade é ensolarada mas muito sombria.