quinta-feira, 17 de junho de 2010

A busca pelo cinza

A tensão da carne, o esfregar dos olhos, o choque das vontades. Quantos balões de oxigênio são necessários para a vida amornar? E o mundo ainda diz que a graça está no arrepio, no fogo brusco, nos extremos do que não se conhece de perto. Divertido é esperar pela estável amorosidade que só o real pode oferecer com o tempo. Vão-se as forças, as redes e as teias. Sobram os restos, as coisas, as dores e os segundos intermináveis. Escorreg-a-n-d-o palavras, caminha-se em direção ao corpo da coragem pra dar um tapa nos pensamentos e fazê-los delirar de ódio e fervor. O cinza também pode ser belo e arrogante: depende de quem vê.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Entranhas


Vontade de fogo.
Na garganta,
embrulho das relações,
sabor de dúvida.

Um ocre na língua passeia pelas entranhas.

Gozo de coragem e frescor.
Gemidos de uma pulsão
à vista do mundo
e das crateras da mente.



* Tela de Edvard Munch

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um encanto de Ó


Foi através da revista Cult que conheci Nuno Ramos, paulista nascido em 1960, artista plástico renomado e autor dos livros Cujo (1993), O pão do corvo (2001), Ensaio geral (2007) e Ó (2008). E é deste último que vamos falar nesta postagem.

Desde a leitura da sua entrevista na revista, fiquei curiosa pela sua escrita e prometi a mim mesma comprar um de seus livros pela internet, mas não foi necessário. Para minha surpresa, semanas depois encontrei o livro Ó na Escariz e tive a certeza de que ele deveria voltar para casa comigo.

Publicado pela Iluminuras, editora que segue um padrão criterioso de qualidade e de material gráfico, Ó espanta pela sutileza, pelos parágrafos corridos um tanto saramagueanos, pela vibração rítmica das histórias de dentro, pela fluidez da palavra e pela melodia despretensiosa da narrativa.

Ao mesmo tempo suave e arisco, Nuno Ramos é verborrágico e não tranca palavras para descrever os detalhes nos textos. Não saberia definir se são contos. Aliás, talvez seja uma escrita ainda inclassificável. E esse tipo, ou seja, o tipo do não tipo de escrita, é o mais atrativo porque traz o novo, o que não foi decifrado, o que está por ser descoberto. Ó é dessas obras que rompem estruturas de linguagem, que quebram a vida dos tradicionais gêneros literários e das modalidades de discurso.

O livro é dividido em vários Ós. Confiram os dois trechos abaixo:

2º Ó
Não vejo o ar onde cede e verga, em suas juntas, não vejo onde o espaço, transparente, dobra e dança, e cresce feito maré ou leite fervendo, não sei ainda quando o que é sólido vira espuma, a qual temperatura exatamente, nem porque isso acontece, nem posso apertar a alcatéia entrelaçada da vontade e da poesia, não posso soltar essa matilha – estrela, estrada, estrume – porque não ouço o que para mim é ó ainda. Perco os seus sinais, minha agonia, haste sem bandeira fixada numa luz branca e solitária, navio cargueiro derrubado a seco, coração no oco da palavra.

5º Ó

Não há corpo que me prenda. Não há pena que me cubra. Não me machucam as mãos não saber nada delas. Não me machucam as mãos ter um estoque de palmas – e de pés e de pâncreas. Não posso transplantar meus órgãos, embora tenha tantos sobrando. Faria dinheiro com isso. Tenho sete retinas no bolso, duas plantas em cada pé. Lanço do viaduto o infinito intestino. Atiro no chapéu do mendigo o anel de um cu antigo e deixo afundar no asfalto uma de minhas testas.

Belas gravuras de Beatriz Milhazes




Passeando pela internet vejo a notícia de que a artista plástica carioca, Beatriz Milhazes, está com sua obras em exposição no Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes), em Vitória, no Espírito Santo. Até então não conhecia o trabalho de Beatriz, mas confesso que achei maravilhoso. Intitulada "Beatriz Milhazes: Gravuras", a mostra segue em cartaz até 29 de agosto.

O trabalho reúne um conjunto de 17 gravuras do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. AS obras foram produzidas entre 1997 e 2007, doadas para a instituição pela artista e pela Durham Press, na Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde Milhazes participou de um programa de residência artística.

Por que não chega em Aracaju um exposição como esta? Por enquanto vamos nos deliciando com as imagens que a internet nos oferece no link abaixo:

http://entretenimento.uol.com.br/album/beatrizmilhazes_es2010_album.jhtm#fotoNav=14