segunda-feira, 12 de julho de 2010

Refluxo

As pálpebras cerram o doce recato do sonho. Uma vez desalimentado, o desejo cospe no prato da agonia e relembra cada revés com o carinho de um animal pronto para dar o bote. Melhor mastigar vazio do que vomitar seco o que não se consegue expurgar. Perdido no meio do acaso, o baile da digestão emocional garante boas fisgadas, dançando gostos e ilusões. Refluxo do tempo, embrulho da noite, engasgo do dia. A vida tem descido consistente, úmida, em círculos indecifráveis e nauseabundos. Chamem o futuro, sequem as roupas da ansiedade, vistam as cinzas da revolta e cantem cores porque os músculos da vontade querem dançar.

2 comentários:

Fátima Lima disse...

Cara Lara, escrevi sobre isso no meu último poema(sobre presentes e futuro). Por isso ( pelo que se desvela em sua escrita) tenho ruminado a vida. Nem consigo engolir nem expurgar. Rumino até que se esvaia as dores...

PS-Gostou do livro?

Lara disse...

Fátima, estou degustando o livro. Vou escrever sobre ele e postar no blog. Obrigada!

Bjoss