segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Poesia para degustação


Mais uma vez, nos meus passeios constantes pela livraria, encontrei um livrinho da L&PM Pocket que me trouxe literárias surpresas. Poderia ser apenas mais um livro de poesias reunidas, mas, ao folheá-lo, me deparo com uma obra tão leminskiana, simbólica, ritmada e profunda... O nome da poeta é Martha Medeiros, gaúcha de Porto Alegre, nascida em 1961, formada em Propaganda e Publicidade.
Na contracapa do livro, aparecem depoimentos rasgados de Millôr Fernandes e Caio Fernando Abreu. Não que isso tenha sido fator integrante para o olhar extasiado sobre as poesias. Apenas acrescenta, comove, consolida.
Ela traz força, brincadeira, ironia, sabor à poesia que tem um tom descaradamente feminino. Em cada verso, uma combinação que parece ter nascido para dar certo. Há muito mais cores dentro do texto do que se imagina, quando se olha apenas para o superficial das linhas. Aliás, nelas, é constante o susto da identificação daquilo que não se diz, ou não se consegue dizer. É poesia para experimentar, degustar, mostrar para os colegas, sorrir e corar de uma satisfação que pede para ser explorada.

Pequena biografia
Martha Medeiros trabalhou como redatora e diretora de criação em vária agências de Porto Alegre. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia. De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno que circula aos domingos. Também é colunista do jornal O Globo, do Rio de Janeiro.
Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996). Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9ª edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. Já o livro Divã (2002) deu origem a uma peça e depois a um filme, ambos estrelados pela atriz Lilia Cabral, no papel de Mercedes.


Poemas:

1.
você bem que podia ter surgido na minha vida
vinte anos atrás, quando eu ainda tinha planos
quinze anos atrás, quando eu estava me formando
onze anos atrás, quando eu morava sozinha
dez anos atrás, quando eu ainda era solteira
seis anos atrás, quando eu ainda estava tentando
dois meses atrás, quando sobrava alguma força
ontem à noite eu ainda estava te esperando

2.
pra morangos, digo sim
pra ciganos, digo sim
pra candangos, digo não
pra fulanos, digo sim
pra sopranos, digo sim
pra capangas, digo não
pra moicanos, digo sim
pra romanos, digo sim
pra malandros, sim e não

3.
todo conto de fada
faz-de-conta que não sabe

4.
quando dou pra ti
sou mulher
quando dou por mim
solidão

Um comentário:

Bangalô Cult disse...

Oi, Lara, sabia que eu já havia folheado esse livro na Escariz e achado bem interessante??
Mas não comprei...me empresta?
Bjs

Suyene