segunda-feira, 8 de junho de 2015

Venha até a esquina



Pessoal, mesmo inflamada pelo fanatismo, preciso comentar um pouco sobre o documentário “História do Clube da Esquina - A MPB de Minas Gerais”, lançado em fevereiro, mas que só agora tive a oportunidade de assistir. Antes de tudo, de qualquer análise, é importante frisar o seguinte: o material foi produzido como trabalho final do curso de Jornalismo da PUC-SP. E isso - sem preconceito, porque não tenho paciência pra rótulos em cima de estudantes -, faz diferença sim. Neste caso, não pela possível inexperiência, mas talvez pela escassez de recursos financeiros e apoio em vários níveis.

Suposições e desculpas para camuflar as lacunas, brechas e misturebas do filme? Pode ser. Não sei... Acho que pela quantidade de músicos de primeiro escalão e de histórias sobre canções absurdamente belas, realmente fica difícil produzir qualquer documentário. Só por isso já dá pra notar que é muito complicado reunir tanta gente, encontrar disponibilidade dessas pessoas para falar e ainda casar as ideias, narrativas com imagens de fotos e vídeos para dar veracidade ao que é contado pelos próprios integrantes.

Sabe o que eu queria? Que fosse feito um documentário de duas horas e meia, super bem trabalhado, conduzido por cineastas experientes, com uma produtora eficiente por trás e grandes patrocinadores. Porque é isso que o Clube da Esquina merece. A história e as músicas filhas desse conto mineiro tem polpa até demais. Dessa fruta, não comeram nem o caroço ainda.

As edições são frágeis, falta alguma costura, alguma ‘liga’ para o rejunte fazer sentido. Claro que me emocionei em alguns pontos, porque para fã, toda informação vira ouro, toda filmagem de show vira delírio. Mas senti tanta falta de imagens mais tocantes e ângulos mais elaborados. Eu sei que podia mais. Muito mais.



Em um dado momento, Lô Borges conta sobre a criação do disco Clube da Esquina. Em seguida, é exibido um show dele e vários parceiros na Universidade Federal de Minas Gerais cantando, em 2005, a música Clube da Esquina 1. A meu ver, a canção é belíssima em todos os versos. Mas sabe qual o verso mais importante e que tem tudo a ver com aquele início de jovens ainda sem saber onde iriam chegar? É este: “Venha até a esquina, você não conhece o futuro que tenho nas mãos”. Essa é a parte que emocionaria o público, porque a previsão está contida nesta frase, mesmo que eles não soubessem ou não tenham se dado conta até hoje. Mas essa parte da música foi cortada. Canções do Clube da Esquina tem profundidade e alcançam a massa. No cinema, isso pode ser explorado com todo vigor e naturalidade. Mas não foi.

Alguém poderia dizer: “Ah, Lara, dá um desconto, você está exigindo demais. Faria melhor?”. E eu, no alto da minha empáfia de fã, diria que sim, mesmo sem nunca ter pisado num set de filmagem. A idolatria a uma pessoa, a um grupo, a um conjunto de músicas e a uma diferenciada estética musical faz a gente pirar vez ou outra. O povo costuma dizer: “É muito cacique pra um índio só”. Eu poderia parodiar: “É muita genialidade pra pouco documentário”.


Obs.: Mesmo assim vale a pena assistir. É o que temos pra hoje. Sim, eu chorei de emoção algumas vezes.
Segue link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=SACaczm6gA4

Um comentário:

Anônimo disse...

Clube da Esquina é algo decisivo na história maior dos grandes acontecimentos da música brasileira. Existe uma música brasileira antes da experiencia estética do Clube e uma música depois. Antes e depois de Jobim. Antes e depois de Villa Lobos, de Gonzaga pai. Realmente no mínimo, 3 horas para se fazer algo mínimo em relação ao Clube da Esquina. Seus comentários são realmente por demais necessários. Até. Luis Estrela de Matos.
estrematos@yahoo.com.br