terça-feira, 23 de junho de 2015

A partir dos 30...


A gente passa a fase dos 20 anos sem pensar que o tempo vai passar e que as próximas décadas de vida virão. Só fazemos planos para que sejam realizados poucos anos depois. Fazemos parte daquele grupo diminuto e seleto de gente que não pensa em ser avô/avó e que acha isso tão distante da realidade que parece fazer parte de outra dimensão.

Mas os 30 chegam. E antes mesmo da fase balzaquiana (termo direcionado às mulheres, devido ao livro "A mulher de 30 anos", de Honoré de Balzac), acontece o famoso retorno de Saturno aos 29 anos, como fora bem contado por Renato Russo na canção "Vinte e nove": "Passei vinte e nove meses num navio/E vinte e nove dias na prisão/E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno/Decidi começar a viver". É momento de ruptura, de quebra da aura juvenil, de recomeço.

Mas é claro que a mudança ocorre mais por dentro que por fora. Isso em algumas pessoas mais assustadas com a nova fase. Porque em outras, podem aparecer rugas à vontade, que o divertimento, a descontração e a leveza continuam intactos. Só que para esses, os outros às vezes cobram maturidade, responsabilidade, uma imagem séria e até um ar de que "conquistei tudo que queria".

Para os encucados, depois dos 30 a sensação é de ladeira abaixo, de diminuição da capacidade mental, de perda de memória, de distanciamento da infância, de dúvidas como: "Será que ainda posso usar esse short que as gurias pré-adolescentes usam?". É a hora dos questionamentos, em que não se sabe ao certo se tem que seguir as regrinhas da sociedade ou se tem que deixar a vontade própria prevalecer. São tantas as perguntas...

Aí, de repente você se olha no espelho, vê os traços um pouco mais marcados e acha até bonitos. Mais do que isso: começa a gostar dessa maturidade que começa a saltar da alma e aparecer nos "pés de galinha", nas covinhas, nas olheiras. Vemos as fotos dos amigos de mesma idade em redes sociais e começamos a achar o quanto essas pessoas estão lindas com essa nova meia idade, com histórias pra contar, muitas ainda a viver, mas contando já com os primeiros vincos de uma vida vivida e não enterrada.

Há beleza no envelhecer, no dia após o outro, na vivência, na experiência, no corpo que vai se modificando junto com o que vai por dentro. Há amor por essas marcas do tempo que vão nos entregando a quantidade de anos vividos. Mas o que é a idade mesmo? Não importa se o que passou já consegue virar entulho dentro da gente. Sempre é possível fazer uma faxina e deixar o que realmente importa: a dança das cadeiras, os altos e baixos, os revezes, as forças e energias contrárias ou a favor. Tudo isso nos forma, nos dá couro grosso, nos alimenta de história e possibilidade de um futuro diferente e com sabedoria, largando os arroubos da juventude e racionalizando melhor a existência. Às vezes, também usando uma pitada de inconsequência adolescente. Talvez seja a melhor fase: um pouco mais de esperteza, a ousadia de poder brincar de ser menino/a, tudo num corpo que varia entre a disposição descarada e a dor nas costas que é mais comum na terceira idade. Sejamos, pois, trintões cheios de amor e esperanças renovadas!

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