quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma concha à beira mar


Queria uma concha para me esconder desse mar rotineiro e pesadamente salgado. Ficar na areia, à espera de uma salvação que me leve para bem longe deste oceano de ofensas à dignidade de viver, onde eu pudesse estar coberta com uma manta grossa, completa, amarrada em meu corpo febril e vomitante. Ando a passos lentos, mal deixo pegadas e ainda faço questão de apagar o meu rastro. Sou destinada ao vento, aos devaneios, aos cabelos em desalinho. Tenho ardência no coração e firmeza no pulsar. Vivo a canseira dos dias iguais e sigo em frente, simplesmente por não ter uma opção vulcânica que pudesse pulverizar os meus sonhos e meus ideais. Deito na vida e me enrolo em um lençol de amenidades, olhando para os lados, certa de que vão me resgatar da monotonia da realidade.

6 comentários:

Ítalo Marcos disse...

Essa é a Lara "a guiar" os devaneios em palavras tão bem postas..

Vc emociona com sua escrita, menina ! ;**

zenaide aguiar disse...

A foto é sugestiva, mas não consegui penetrar nas entranhas do texto.

Unknown disse...

A palavra é ficção, mas tb desvela o real... A escrita liberta, mas tb aprisiona...Qual o limite do real/ficcional? Choro qdo leio "à espera de uma salvação que leve para bem longe deste oceano de ofensas à dignidade de viver"...

Anônimo disse...

E se não houver um resgate da realidade? E se essa tão esperada onda repentina não carregue o que está em sua margem? E se o Sol secar também a esperança? E se o resgate veio e o lençol das amenidades me prendeu na areia? E se reconheço as ofensas como ofensas por querer escutar nas horas impróprias? E se fosse eu o molusco a beira mar a procura de uma concha imaginária esperando que você me salve? São tantos e se..., que acabo me perguntando... Se eu não questionasse, não tivesse medo, me entregasse, será que continuaria com tantos medos? e se...

Não sei se te vejo ou se me vejo, não sei se te conheço ou me conheço, não sei se falo ou esqueço...

;*

Janderson disse...

Ninguém conhecerá a realidade se ficar a contemplar o mar e esperar que a vida por si só traga as respostas que lhe inquetam.
Meu conselho é que ou pegue as redes com sua própria mão e a lance ao mar para pescar os moluscos que te afligem ou sai da praia e pesquise os conflitos que estão nas ruas, nas praças, nas casas, nas indústrias, nas escolas, enfim, na vida social. não terás respostas enquanto ficar apenas na area descosta para realidade.

João Camilo disse...

"...certa de que vão me resgatar da monotonia da realidade."

Ninguém vai te resgatar. Só você pode fazer isso.

Mais um ótimo texto ;*