quarta-feira, 8 de abril de 2009

Soprando vida

Toda vez que penso na morte, me vêm à memória a idéia de sopro, de pulsão, de ar que se esvai quando o peito pára de bater. Isso me faz pensar também que o sopro é dado na hora em que a vida desperta para o mundo, no tão doloroso nascimento. Então, me lembro de Clarice Lispector, que em uma de suas obras, “Um sopro de vida – pulsações”, remete à ideia tão óbvia e adormecida de que somos todos um vento que pousou na matéria e que um dia vai se soltar da crosta e uivar em outra dimensão.

O livro, escrito por Clarice no mesmo ano de sua morte, tem uma narrativa incomum, com um diálogo entre uma personagem e seu alter ego. Em nenhum momento essas duas faces da mesma vida parecem se entender. Aliás, esse jogo de dupla em completo desalinho é o que mais nos deixa assustados, como se um ser fosse dividido em dois completamente distintos e ao mesmo tempo interligados em seus dramas e sensações. É, porque, no fundo, os sentimentos de dentro são os mesmos, apesar de surgirem por motivos externos ou internos diversos.

“Um sopro de vida – pulsações” é um dos livros de que mais se podem extrair ideias, reflexões, poesia, enfim, tudo que existe de sublime num texto. É o pulsar o que se sente na leitura, é também a vida de Clarice pedindo ar, é o nosso grito asmático para o mundo. Por isso fica nas lembranças, acordando em momentos de cruzamento de entrada e saída de vida.

Um comentário:

suyenecorreia disse...

Bonita, estou querendo ler esse livro da Clarice. Sobretudo por conta dele ter sido escrito no ano de sua morte (véspera do seu aniversário, emblemático???) Aliás, só conheço mesmo "A Hora da Estrela".
Será que dava para vc me emprestar???
Vamos conferir os filmes franceses no Jardins (dê uma olhada no meu blog).

Bjs

Suyene