quarta-feira, 21 de maio de 2014

Praia do futuro ou piscina rasa?


Um filme que, pelo jeito, não quer ser visto somente como produção de temática gay, mas não consegue passar disso. A sensação é de que 'Praia do Futuro' veio ao mundo só para dizer: 'vejam, olha só como um gay se relaciona sexualmente com outro'. As águas desse filme podem até ser profundas, mas a história é rasa, o amor retratado é extremamente superficial e eu fico chocada com a quantidade de gente dizendo que viu poesia na película, vociferando que trata-se de praticamente uma obra-prima do cinema estrelado pelo queridinho Wagner Moura. Quanta ingenuidade... O filme é maçante, chato, parado, sem motivo, sem um mote que prenda o espectador. Acho que muitas pessoas fazem a defesa do filme porque tem necessidade de mostrar que não são homofóbicas.
A história já está aí, batida em todos os sites de cinema, então não vou falar aqui. Só vou comentar o que eu, como leiga do assunto, mas cidadã que assistiu ao filme, achei sobre esta perda de tempo. Primeiro, os loucos vão me apedrejar, dizer que sou homofóbica. Estou tão longe disso... Sabia muito bem do que ia rolar no filme, não tive qualquer tipo de problema em ver cenas de sexo, muito menos por ser entre gays, pra dizer a verdade, achei até bonitas. Mas foram cenas que não me trouxeram sentimentos, apenas a beleza daquele momento.
Uma produção brasileira que merecia destaque e que ninguém comentou tanto quanto esse filme foi 'Flores Raras', com Glória Pires. Esse sim, um filme emocionante, que tem conteúdo, história, roteiro, não tem buracos, é bem alinhavado e fez com que eu saísse do cinema com mais vontade de amar aquelas pessoas com quem já tenho afetividade. Isso pra mim é filme. É algo que me motiva, que me faz querer ver mais e de novo, enquanto que 'Praia do Futuro' só me fazia ter vontade de que acabasse logo, de tão monótono, sem força, sem explicações, apenas com um silêncio que em vez de fazer refletir, apenas traz angústia e irritação.
Definitivamente, não recomendaria 'Praia do Futuro' para ninguém. E não tem nada a ver com as cenas de sexo. Nem lembro delas quando estou aqui e agora falando desse filme. Apenas lembro das etapas que não estão costuradas, das cenas sem sentido algum, dos atores desconfortáveis dentro dos seus papéis, da relação entre os personagens tão rasteira, e da pieguice do final. E ainda tem gente que diz que a relação do filme é bem parecida com as relações que mantém na vida pessoal. Ok. Cheguei à conclusão de que tem muita gente que não sabe amar. Faz sexo e acha que isso é o suficiente pra chamar de amor.



3 comentários:

Cláudio Vasconcellos disse...

Não assisti ao filme ainda, mas gostei de seus comentários.

Anderson Muniz de Santana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson Muniz de Santana disse...

Lara assisti o filme. Me parece que a idéia do Diretor foi passar, entre outras coisas, a dificuldade da aceitação de si e justamente os processos de confusão entre paixão, sexo e vivência do amor. Três elementos que podem ou não estar interligados. Bem, até posso achar como você que o tempo do filme para boa parte do público, principalmente para nós brasileiros, pode parecer maçante em alguns momentos e lento. A impressão é de que o diretor optou por deixar nas cenas muitos elementos que vão fazer alusão ao estado de espírito do Donato e do outro personagem e não em colocar isso explicitamente nos diálogos e interações. Daí a lentidão e algumas cenas "aparentemente" nada com nada. Narrativa mais dialogada ou cenas mais “claras” auxiliam não dispersarmos. Não é o espetáculo de filme! Oh! Como merece um monte de oscars...kkkk. Mas discordo que tenha sido uma psicininha com cachorrinho que não cabe de tão pequena (risos-foto muito fofa). Valeu para mim por tratar dos desafios que homossexuais muito polarizados no masculino enfrentam para terem contato com sentimentos. Um drama que pode ser aplicado a todos independente do sexo. Também mostra o desafio de superar as expectativas familiares, culturais e sociais. Estas expectativas em forma de mensagem interferem tremendamente no cotidiano e na vida psíquica do indivíduo. Por exemplo, gay ainda na noção cultural é: xingamento(Inclusive para gays), é ser um indivíduo sem coração e fútil, gay só dá o c..., gay não casa, gay não namora. Sobre o tópico namoro, quando ouvi um rapaz me pedi em namoro pela primeira vez achei "surreal" e pensei tipo: e eu como homossexual namoro? E pode é? Como vai ser isso? E é óbvio que as pessoas dentro e fora de casa no fundo agem, pensam e estimulam inconscientemente o homossexual a se perceber como alguém estranho que deve ser reprimido em suas manifestações de afetividade. O filme toca sutilmente neste aspecto. Imagine no caso de um homossexual, que foi criado com uma série de condicionantes sociais daqui do nordeste cheio de mitos sobre ser "macho" etc, o Donato é isso. Ele sequer se assumia para si, muito menos no social e na família. Vários de nós homossexuais não tratam os relacionamentos afetivos com a naturalidade. Apresentam cônjuges como sócios, outros como amigos, etc. O filme mostrou alguém que se permite tocar o coração, mas tem dificuldade de assumir e viver em paz com mais sentimento sua sexualidade. Bem achei que valeu o filme por ser um história de aceitação da identidade e do humano em si. E a partir do fortuito e meramente sexual se desenrola para o campo do contato com sentimento e fica o estímulo até quem sabe chegar ao respeito e dai caminhar para o amor. Mostra bem a dificuldade do masculino em ter contato com o sentimento que é diferente da “razão”. O "macho" é criado para não falar e não expressar sentimentos. Os personagens são gays com características muito, muito masculinas e com pouco contato com o feminino dentro de si(intuição, mais sentimento) e ai consegui perceber como um chamado a abertura do coração, para aceitar a si e ao outro e a respeitar a dimensão sentimento. Vi no final um posicionamento familiar afeito a laços mais próximos ao coração que sexuais (no caso dos parceiros) e biológicos (no caso dos irmãos). Concordo com os buracos q vc faz alusão. A estrutura dividida em capítulos deixa lacunas. O último capítulo apenas ratifica o que o segundo apontou que o Donato que aparentava ser bem "resolvido" tava nada resolvido e não estava em paz consigo. Agora, o esforço do alemão em unir os dois irmãos e em trazer mais "paz" ao Donato salvou os elos de sentimento que começaram a se formar. Mas concordo com você que poderia estar mais "costurado". É isso! Cheguei casualmente aqui e como não creio em "acaso". Resolvi deixar minha impressão. Obrigado por partilhar a sua. Abração!