terça-feira, 29 de setembro de 2009

Poeira de amor

Virei poeira de amor: resto da asa de uma borboleta embaixo da cadeira. Virei papel amassado, descartado, sem limpidez e graça. Gosto de me sentir segura. Mas quem se importa? Só...sempre só de mim. Para onde partir, se em todo lugar me encontro cada vez mais fragmentada? Uma metade de mim para mim. Pólen borrado, de um amarelo turvo desbotado. Nem sei de qual ponte irei me jogar para encontrar o vento que me arrastou. Uma mão impossível me tiraria desse nojento canto de desprezados.
Onde deixei meu sangue viril, minha voz grave gritando coragem, meu texto anti-regras? Vou buscar a essência que foi exposta na parede das lamentações e abraçar as dores para que elas se sintam menores e se esfacelem aqui dentro. E sonho mais: a cabeça voltada para cima, a chuva de choro contemplativo para trazer o alívio de uma proteção aguardada e justificável. Quero esquecer o desejo no bueiro da primeira esquina fétida da minha cidade orgânica.


Lara Aguiar

2 comentários:

Bangalô Cult disse...

Querida, demorou prá escrever, mas quando o fez...arrasou!!!
Vida longa para a literata, Lara.
Bjs

Fátima Lima disse...

Texto profundo como a busca de nós mesmos... Boa leitura é aquela que nos toca..Leio nessa manhã e me ponho a pensar nas nossas cidades orgânicas..
Beijocas...