segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ouro na poesia


Durante esta semana postarei alguns poemas da minha mais nova descoberta. Adoro me fantasiar de garimpeira e achar ouros tão refinados como o livro "Pensamento chão", de Viviane Mosé, com uma poesia tão leminskiana, doce, onde a palavra é o maior triunfo que pode existir. Viviane parece que caminha lado a lado a Manoel de Barros, outro poeta dos pormenores, do indizível, das brincadeiras com a linguagem. E é esse susto a cada verso o que faz tremer o leitor com sede de textos cada vez mais ricos, densos, curtos, plurais e metafóricos. É tudo poema-poesia em si.


Tem gente que tem o costume de vazar pelos cantos.
No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos.
Mas se pega gosto principia o derrame.
Escorre quando fala. Escorre quando anda.
Não tem mais braço nem cabelo que segure.
Parece que vicia em ficar transbordada.

Mas tem gente que quando transborda é pra dentro.
E corre o risco de ficar represada. E represa você sabe.
Se aumenta muito arrebenta.

Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora.
Aí vai fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra.
E a terra parece que se abre pra ela passar. Às vezes não.

Viviane Mosé

3 comentários:

Bangalô Cult disse...

Lara, assim como vc, também visto a fantasia de garimpeira e descubro cada coisa...
Mas no âmbito da poesia, você é minha bússola. Gostei dos versos dessa nova "descoberta".
Vou querer conhecer mais.
Bjs

Suyene

Fátima Lima disse...

Viviane Mosé é "ouro" mesmo não apenas na poesia... Vale a pena também viajar nas suas incursões filosóficas marcada pela propriedade de traduzir as abstrações.... Excelente garimpagem... Enquanto o livro não nos chega às mãos, nos tomamos pelos poemas no Artscritta..

Sanatório disse...

Garimpeira!