Sempre Clarice... Revisitando a minha mais antiga bíblia, "A descoberta do mundo", me deparo com esta crônica ou mini-crônica de Lispector:
Angina pectoris da alma
Só que dessa não se morre. Mas tudo, menos a angústia, não? Quando o mal vem, o peito se torna estreito, e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que antes se chamava alma e agora não é chamada nada. E a falta de esperança na esperança. E conformar-se sem se resignar. Não se confessar a si próprio porque nem se tem mais o quê. Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.
2 comentários:
De verdade, lendo esse texto de Clarice, autora no qual eu peco de nunca ter lido, eu me deparei diante de um espelho. Parecia eu, pensamentos meus, mas é claro, com palavras melhores escolhidas.
E você, parabéns, por dividir essas sábias leituras com os leigos. Leigos como eu que tem a burrice da preguiça de ler e redescobrir autores de nossa identidade.
Sempre passarei por aqui...
Ah, amei o seu comentário, Marcus! É que também me sinto como se estivesse diante de um espelho nesse texto. Parabéns pela sensibilidade!
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