segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Coluna literária

Mais uma vez, o advogado Ezequiel Monteiro dá estímulos à minha escrita. Fico muito agradecida por todo o empenho em enxergar nos meus textos mais do que até eu mesma enxergo. Por isso, reproduzo-o logo abaixo:

Coluna literária

Texto: Ezequiel Monteiro (Advogado)

Prioridade – Há uma característica essencial na curta ficção de Lara Aguiar que não abordei nos dois artigos analíticos que escrevi sobre a recôndita obra da escritora sergipana, de quem só conheço três contos. Nesses textos as palavras não são dispostas de maneira a formar um sentido preciso e explícito, não se apresentam com o rigor da acepção habitual, não assumem uma estrutura de linguagem comum; constroem uma ambigüidade semântica, são alinhadas com a flutuação dos símbolos e se oferecem ao leitor comportando seus sentidos múltiplos.
Nesse original e renovado tipo de literatura, a linguagem deixa de ser aquilo que sempre foi – instrumento e veículo da expressão literária – para se tornar um fim em si mesma, instituindo o princípio de que literatura é linguagem. Além disso, a natureza simbólica que a contista aracajuana imprime à sua prosa, com sua margem de imprecisão e nuanças conotativas permitindo leituras múltiplas, diferentes, também instaura uma espécie de interação e parceria entre a autora e os leitores no processo literário. Não gostaria que pensassem que falo de Lara Aguiar como uma escritora que já chegou ao seu ponto mais alto. A literatura é um processo longo, difícil e solitário, principalmente em uma cidade que despreza e persegue os escritores.
Por outro lado, as peculiaridades do temperamento pessoal da ficcionista, confinada em uma opulenta vida interior que não deixa espaço para o mundo, ao mesmo tempo em que confirma as suposições de um raro talento literário, também tem provocado sua retração do cenário gráfico de Aracaju, mesmo trabalhando em um jornal que dá espaço às produções literárias. Esse solipsismo da inventiva escritora tem ocultado sua obra, mas também é verdade que a comunidade literária desta cidade não faz nada por ela. Envaideço-me pelo fato de ser um dos poucos articulistas que crêem no valor e no tremendo potencial dessa moça. Aplico aos contos de Lara Aguiar esse comentário de Roland Barthes, um dos expoentes da crítica literária francesa, inserto em seu famoso ensaio “Crítica e Verdade”, Ed. Perspectiva, págs. 215/6: “Pretende-se sempre que o símbolo não seja mais do que uma propriedade da imaginação. O símbolo tem também a função crítica e o objeto de sua crítica é a própria linguagem. Às Críticas da Razão que a filosofia nos deu, podemos imaginar que se acrescente uma Crítica da Linguagem, e é a própria literatura”. Este artigo evidencia com fatos concretos que o senso literário da escritora sergipana está sintonizado com a vanguarda crítica do mundo e esse é um sinal eloqüente da dimensão de seu talento, da grandiosa potencialidade de sua vocação literária. A edição de seu livro de estréia é uma prioridade cultural, como já defendi em artigo anterior. Enquanto isso, o mestre Paulo Fernando Morais abandona de vez a literatura erudita e assume o cordelismo de “Mariom”. São tantas as peripécias do conto publicado no último domingo e tais as particularidades ônticas da heroína, tudo apresentado em uma linguagem declamatória, que salta aos olhos o etos do cordel.

Também pode ser encontrado no link:
http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=40567

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