Mais uma vez, vamos a uma obra de Martha Medeiros: “Selma e Sinatra”. O título soa estranho, um tanto brega, assim como a capa, que traz o rosto desfocado de uma senhora mostrando algumas joias. Se dependesse dessa antipropaganda que a editora Objetiva fez questão de publicar, não compraria o livro. Adquiri-o por causa do óbvio: a autora. Sou aficcionada pelas suas obras e não poderia deixar passar essa que se mostrava, um tanto estranha, confesso, na estante da livraria.
Tratado como romance, o livro traz uma narrativa com muitos diálogos entre as personagens principais: duas mulheres diferentes que se encontram devido a um projeto em comum. Selma é uma idosa que foi uma famosa cantora anos atrás e faz acordo com uma editora para produção de sua biografia. Guta é uma jornalista com sede de descobertas, contratada pela editora para fazer a biografia de Selma.
As duas se encontram diversas vezes, mas Selma sempre se esquiva de dizer o que Guta espera ouvir. A jornalista acha que fazer uma biografia de uma vida simplória, polianesca e digna de um conto de fadas não traz nada de novo aos fãs da cantora. A partir daí, começa o embate das duas. Guta quer convencê-la de que uma vida sem atropelos e conflitos não existe e que ela deve expor os seus dramas. Selma, por sua vez, diz que cada um carrega a máscara que lhe convém e que os outros só devem saber aquilo que a pessoa tem vontade de expressar.
O texto é muito bem escrito, assim como tudo que Martha Medeiros faz, mas o livro não chega a ser dos melhores. É mais um para se ter na estante, para refletir sobre certas questões inerentes à natureza humana, pois como a personagem Selma diz: “A convivência humana é um teatro sem fim”. Em outra passagem, uma frase brilhante para fazer pensar: “(...) E o que eu penso sobre mim mesma já deixou de me incomodar”.
Como dizem por aí, a leitura pode ser feita “num piscar de olhos”. É fluente, goza de estilo fácil em 129 páginas feitas para se deleitar. Martha Medeiros encanta mesmo quando sua obra parece infértil. É o tom da sua palavra e da sua narrativa que vence sem precisar de medalhas ou troféus. “Selma e Sinatra” merecia outro título, outra capa, mas seu conteúdo vale a pena: excepcional.
7 comentários:
Não há capa ruim que suje a qualidade da obra quando se tem uma leitora crítica e de inteligência apurada como vc..
Uau! Botou pra lá no comentário, hein Ítalo! hehehehe
Bjos
Ítalo inspirado... rsrs Mas tão somente por sua análise eu estou com vontade de lê-lo tbm! :)
Pelo seu relato parece que o livro foca e muito bem a convivência humana que parece mesmo não ter fim os seus conflitos. Ultimamente tenho passado por apuros no tocante a esse tema. Eu vi de perto,ou melhor, senti a crueldade transitando diante dos meus olhos e na minha pele. Que horror. O ser humano é mesmo irreal, só as máscaras são reais.
Quando vou comprar um livro de alguém que não conheço, cometo o erro de escolher pela capa.
Mas foi uma boa você ter comentado sobre esse da Martha. Concordo que a capa é bem sem graça e passa a ideia de uma história ruim, apesar de que até o ruim da Martha consegue ter algo de bom.
Vou lembrar de "Selma e Sinatra" nas minhas próximas compras.
Nossa... fiquei surpresa ao descobrir que algumas pessoas não gostaram da capa. Eu achei muito legal!
A respeito do livro é fantástico e muito inspirador e de fato é uma leitura bem rápida!
De qualquer forma.. gostei da sua resenha. Bjs-
Thaís.
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