
Mais uma vez, começo a análise minúscula de uma narrativa contando como a obra chegou até as minhas mãos. Gosto dessa relação inicial de encontro entre livro e leitor: parece amor à primeira vista, tesão às primeiras folheadas. No meio dos livrinhos da L&PM Pocket, catando coisas inusitadas, me deparo com o título “Ménage à Trois” e ainda uma capa belíssima, em tons de rosa e vermelho. Logo abaixo do título, à direita, aparece “Eu versos eu / sem vergonha / mundo da lua / e outros poemas”. Olhei o conteúdo rapidamente e, sim, me apaixonei. Adoro essas descobertas literárias, solitárias e simbólicas.
Pesquisando sobre a história do livro, descubro que ele é composto dos três primeiros livros da escritora Paula Taitelbaum, desta vez todos reunidos em um só volume da coleção L&PM. Publicado em 2006, o livro revela um misto de angústia, erotismo, sensibilidade, ritmo, musicalidade, enfim, poemas diluídos em sentimentos e sensações. A obra toca lá dentro, onde só nós alcançamos quando estamos em estado de extremo ópio existencial.
Os poemas gozam de um senso de humor escrachado, delicioso: “Abre as pernas / E fecha os olhos!”. Outras vezes nos faz pensar em coisas simples que dizem muito: “Eu mando você tomar banho / Eu lavo a alma”. Já em outros casos, aparece um poema duro, sem alívio: “Demito minha paixão da coerência / E sem qualquer aviso prévio / Levo meu corpo à falência”. Ainda dentro do erotismo vulgar e sarcástico, encontramos: “Esse infeliz só me vê como uma boceta / Porque no lugar de neurônios / Ele tem gametas”.
Acompanhe abaixo um poema:
Um dia
Você se dá conta
Que a paixão
Não vem pronta
Nem fica tonta
Por tanto tempo
Os modos
Mudam
Os medos
Nos fazem mudos
E o que era tudo
Torna-se agora médio
Que remédio...
Senão matar esse pavor
Com um amor
Maior que o tédio