quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Ocre
Ocre é esse gosto impregnado nas laterais da língua, onde só o confeito deveria plasmar. Mas neste céu de boca só a noite se alinha ao vento do que não quer descer: engolindo a vida a seco. Sem saliva, um ar vazio, ressecado... Quanta insistência dessas vias nasais! O pulmão esqueceu o que é sugar a vida com força e devolve ainda mais lenta a coragem. A respiração se torna densa, grossa de acasos. Mas o borrifo de uma purificação ainda é o esperado. Falta um espirro catarsento, no qual todas as bactérias do desgosto possam evaporar em contato com o mundo. Demos ‘um viva’ ao recomeço depois das viroses da realidade.
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2 comentários:
Querida, comparo este escrito a "Pneumotórax" do Bandeira.
Sublime!!!!
Bjocas
Suyene
Lara, seus escritos tocam naquilo que a escrita permanece: a capacidade de capturar e traduzir a dureza e as vicissitudes do efêmero viver humano. Textos bons são os “demasiadamente humanos”; assim é sua escrita. Uma escrita que atesta a “dor”, mas que traduz também a possibilidade da continuidade. Outra coisa é a capacidade que a escrita tem de produzir identificação. De entrar e se comunicar com cada singularidade. Por isso, é universal. Leio e me vejo nesse texto tão “ocre”.Desejo à você paz em 2011 e que produza sempre e mais textos/poesias/contos/crônicas e magias. Quanto aos meus rabiscos poéticos, faça o que desejar, você tem toda autoridade e ética para isso. Um grande abraço.
Fátima Lima
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