terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre meus textos

Em agosto último foi publicada uma análise sobre os meus "textos literários" no Jornal da Cidade, pelo meu colega Ezequiel Monteiro, articulista do JC e advogado. Gostei tanto que resolvi colocá-la aqui na íntegra.
Obrigada, Ezequiel, pelo incentivo de sempre.


Contos inovadores - Conheci Lara Aguiar através de artigos de literatura e de filosofia que a talentosa jornalista escreveu no primeiro semestre deste ano. Mais recentemente, porém, ela trouxe a lume dois contos surpreendentes: “Estranhamento” e “ Oceano Só”, peças estranhas e delicadas como um madrigal moderno. Longe de contar histórias de personagens fictícios e cerebrinos, Lara é ela mesma a personagem de seus contos expressando-se na forma de confissões. Quando falo em confissão não estou me referindo necessariamente ao registro verídico e realista das experiências da escritora, mas ao discurso inspirativo suscitado por uma emoção seminal, que tanto pode aludir a um efetivo estado de alma da autora, como também consistir em uma confissão inventada e portanto uma emanação artística da subjetividade. Em um momento é Susan, em outro se fala do oceano profundo, tempestuoso e lindo que é a alma feminina. A proposta de Lara Aguiar, no prisma do conteúdo, é original e fecunda porque o seu desenvolvimento pode se tornar um instrumento investigativo e resgatador da essência interior da pessoa. Outro aspecto que chama a atenção nesses dois contos publicados de Lara Aguiar, e está ligado à sua substância confessional, pertine à estrutura ficcional, uma vez que a escritora emergente inova radicalmente a concepção do gênero literário como uma narrativa centrada em uma história. Ao produzir contos sem história, ou com uma história dispersa no tecido da confidência, a ficcionista surgente alarga sensivelmente as possibilidades da criação contística principalmente em nosso meio, caracterizado por um modelo naturalista e vetusto de contadores de história. Este articulista, que há quase três anos vem se exercitando no aprendizado da ficção curta depois de ter passado muito tempo desligado da literatura, está experimentando uma alentadora renovação em sua capacidade de criação a partir da leitura dos contos em exame. Normalmente os talentos novos cumprem uma fase inicial escorados na técnica e nos recursos empregados pelos artistas veteranos. Lara Aguiar é diferente. Logo nas suas primeiras peças quebrou um padrão estético e com seu ímpeto inovador vai exercer uma influência modernizante na curta ficção de Sergipe. Agora vêm as indagações: quantos contos já escreveu Lara Aguiar? pretende a escritora desenvolver sua proposta pesquisadora da subjetividade? podemos ter certeza da continuidade de sua experiência literária? Quanto a mim, observador opiniático, só posso dizer uma coisa: desde que comecei esta enfadonha colaboração no JORNAL DA CIDADE, esses primeiros contos de Lara Aguiar foram a coisa mais importante que aconteceu na curta ficção local. Não vejo as coisas como se apresentam em seu estágio atual, mas projetivamente. Acompanho o impulso inicial com meus olhos e vejo a trajetória estelar.

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