
Nos últimos anos tem se proliferado análises literárias, coletâneas e diversos livros de biografia, troca de cartas, entrevistas, fotos e frases de Clarice Lispector. Ótimo! Significa que a 'bruxa do instante-já' está cada vez mais popular. Mas, o último lançamento no mercado chega a ser patético. A ideia agora é só vender, vender e vender cada vez mais, se aproveitando da cegueira dos colecionadores e apaixonados pela escritora.
Trata-se de uma coletânea de contos de Clarice, escolhidos por diversas personalidades brasileiras que não se encaixam em nenhum nicho ou tribo ou setor específico. O livro chama-se 'Clarice na Cabeceira', foi organizado pela doutora em Letras, Teresa Montero, e editado pela Rocco.
A obra contém contos escolhidos por 22 pessoas que, segundo a organizadora, tem alguma influência no panorama cultural brasileiro. Fazem parte dessas escolhas, Luis Fernando Veríssimo, Fernanda Torres, Rubem Fonseca, Adriana Falcão, Maria Bethânia, Mônica Waldvogel e Malu Mader.
Antes de cada texto, aparece uma apresentação pelo participante que o indicou. A matéria do portal Uol chega até a mencionar: "Nem todas as apresentações são instigantes e algumas delas até merecem ser puladas, para não perder o êxtase em torno da obra clariceana".
O livro compreende contos das obras: “Laços de Família” (1960), “A Legião Estrangeira” (1964), “Felicidade Clandestina” (1971), “A Via Crucis do Corpo” (1974), “Onde Estiveram de Noite” (1974) e “A Bela e a Fera” (1979).
Lispector virando CoelhoClarice tem um livro chamado 'O mistério do coelho pensante'. Será que as editoras acharam que ela se referia inconscientemente ao Paulo Coelho e agora querem torná-la a todo custo uma popstar da escrita?
Bom, mas por que você, leitor, compraria este livro, tendo tantos outros da própria Clarice à disposição nas livrarias? Repare se vou ler algum conto só porque Malu Mader indicou... Eles não perceberam que o leitor de Clarice não precisa ir pelos outros. Ele chega em cada linha por si só, curioso, pra dentro, gotejando sentimentos, com o sopro de vida que a autora nos deixou...
P.S.: A capa é o único sentido deste livro.